segunda-feira, 7 de julho de 2014

Querido Abelardo.

  Abelardo é um galhardo, um exemplo. Na fábrica, é o melhor funcionário. Tratam-no como um heroi, íntegro, correto e sábio. Ele é revoltado, confesso. Abomina o governo. A presidenta? O governador? Deputados e senadores? Para ele, todos farinha de um mesmo saco, um saco de bosta. 
  Se tem uma coisa que Abelardo odeia, é a falsidade, tem total aversão à hipocrisia. Detesta o caminho que o país percorre e manisfesta-se sempre que possível. Faz sucesso na internet, xingando o mundo e botando a boca na vida. Sempre com frases inteligentes, repletas de palavras extremamente impactantes. 
   Quem não gosta de Abelardo, é um louco. Um ser humano tão bom, tão exemplar. É estranho que seja solteiro, afinal, para os outros, ele é o sonho de qualquer mulher com juízo, qualquer mulher que queira um futuro decente ao lado de um homem perfeito. 
  Abelardo ou, para os íntimos, Abel é tão correto que não hesita ao corrigir alguém que, para ele, está agindo errado. Dá lição de moral e, se possível, castiga a pessoa. Faz de tudo para manter a ética e os valores mais importantes. Abel parece querer sempre mudar o mundo, modificar uma sociedade que estava perdida, arrasada. 
  Mas o melhor ainda estava por vir. Depois de um longo dia de trabalho, após ser admirado e elogiado a tarde inteira, Abelardo chega em casa finalmente. Adora sua residência, seu templo. Onde pode pensar e fazer o que quer, onde pode ser ele mesmo. 
  Entra em sua rua e é observado por todos os vizinhos. "Que homem bom", pensa Dona Maria, vizinha da frente. "É de pessoas assim que o mundo precisa", pensam todos aqueles que conhecem Abel. 
  Não é uma casa confortável, mas Abelardo tem dinheiro. Ora, então no que gasta todo seu salário? Ah, lembrei. 
  Tranca-se no quarto, toda noite. Mergulha no álcool para viajar para o mais longe possível. Gasta muito dinheiro em bebida. Ah, Abel sabe o valor de um bom whisky
  A bebida o faz esquecer dos chifres que levara da ex-mulher, aquela vadia. O corpo da desgraçada estava enterrado nos fundos do velho sítio, já deveria estar podre. Abel queria ter jogado no rio, mas gostava de cavar, dessa forma perdia mais calorias. 
  No quarto, durante toda a noite, Abel entrega-se aos prazeres carnais, olhando fotos e vídeos de menores de idade, meninos ou meninas, para ele não tinha diferença, o que valia era a inocência. De vez em quando seduz crianças e marca encontros em lugares desertos. Não deixar as digitais no lugar onde abusa das meninas é sempre a tarefa mais complicada. É tão difícil quanto não ejacular dentro daqueles corpinhos. "Às vezes é inevitável", pensa ele, sorrindo. 
  Quando não está inspirado para o pecado da pedofilia, Abelzinho procura frases bonitas e sábias, rouba-as na maior cara-de-pau e posta na internet, para manter a reputação. 
  No dia seguinte, antes de ir trabalhar, Abelardo confirma presença em mais um protesto contra os gastos do país e criticava a saúde, a segurança e a educação do Brasil. 
  Ah, que homem bom! Querido Abelardo.